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Prólogo da Taverna ou “Começando um grupo de escrita”

Inicialmente, não era nada além de uma ideia. Eram apenas pessoas que gostavam de escrever, publicavam vez ou outra um trabalho seu na internet ou em antologias – quando encontravam alguma cujo tema lhes era interessante. Costumavam discutir sobre Tolkien e Adams, comparar autores, opinar nas histórias uns dos outros, muitas vezes de maneira superficial. Até que, um dia, em algum tropeço virtual, buscando algo que os deixasse mais próximos de seus ídolos, suas fadas e dragões, encontraram um artigo de uma escritora chamada Holly Lisle. Holly Lisle, escritora veterana de fantasia, publicou uma série de livros sobre aprimoramento de diferentes aspectos da escrita, e sua obra será futuramente explorada em tópicos por vir. Contudo, foi o artigo que chamou a atenção naquele momento.

O artigo fala sobre grupos de escritores. Esses grupos, diz a autora, foram de grande ajuda em seu início de carreira e dessa forma ela os recomenda, contanto que eles satisfaçam a suas necessidades e te ajudem a crescer. Assim a ideia surgiu e mais tarde foi reforçada com o conhecimento que grandes escritores como J.R.R Tolkien e C.S. Lewis participaram de um mesmo grupo com propósitos similares. O grupo recebia o nome de “Inklings” e “O senhor dos anéis” foi um dos primeiros trabalhos a ser apresentado em suas reuniões.

Com um propósito em mãos, o grupo de amigos escritores começou a buscar oportunidades. Local para as reuniões parecia um ser o primeiro grande problema, pois a falta de segurança pública, dificuldades com transporte e agitação em excesso pareciam descartar de imediato ambientes para não consumidores. Assim, o processo de criação ficou incubado, até o dia em que, assistindo no teatro da Livraria Cultura um evento de Star Wars, um membro da plateia divulgou sua intenção de reunir no próximo fim de semana, nas escadarias da livraria, fãs da série Dr. Who. A ideia, embora simples, nunca havia ocorrido aos aéreos amigos: a escadaria era ampla, possíai almofadas, eles estariam cercados por milhares de livros e em um shopping de fácil acesso partindo de quase todos os pontos da cidade.

A primeira reunião contou com a presença de quatro pessoas, pois uma quinta interessada não conseguiu chegar. Nela, decidiu-se o que se esperar de um grupo de escrita, como ele seria conduzido, o que poderia ser feito para tornar as reuniões mais interessantes e como atrair mais pessoas sem investir na distribuição de camisetas. O plano era excelente, pensaram os amigos agora muito otimistas, e o sucesso do grupo parecia iminente. No entanto, a realidade frequentemente é real demais, e se cinco se interessaram na fundação do grupo, não raro era que apenas três (ou dois) comparecessem para a reunião. Ainda assim, a resolução permaneceu forte, e, mesmo tendo reuniões minúsculas, alguns membros adotaram a resolução de jamais faltar e nunca deixar de produzir um conteúdo mínimo semanal. Apesar de tudo, o grupo de escrita começava a fazer seu efeito, e muitos mundos tomaram forma em discussões ocorridas nessa fase inicial.

Comentários sobre o grupo e convocações diretas aos poucos aumentaram o número de interessados, e por motivos mais diversos que o previsto, muitos tornaram-se assíduos. As reuniões acabaram migrando para o Café no topo das escadarias, pois tornou-se tradição para alguns membros do grupo consumir alguma bebida para passar o tempo, refrescar a garganta ou experimentar drinks que não faziam a menor ideia de como eram consumidos. As mesas permitiam olhar melhor os rostos dos membros, e por lá está o grupo até a presente data.

Na medida em que o grupo se expandia, assim se expandia a pluralidade de ideias, muitas vezes divergentes dentro dele. Foram criadas algumas diretivas para a boa convivência do grupo, que implicitamente eram passadas mesmo por aqueles que desconheciam a existência do documento escrito onde elas foram registradas. Uma das diretivas mais importantes para que o grupo avançasse foi a do Consenso. Não há lideranças no grupo e nenhum dos membros tentou clamar o status de líder para si. Tudo é resolvido na base da discussão, muitas vezes prolongada, buscando encontrar uma solução que agrade em parte todas as partes envolvidas. Em muitas reuniões pouco se discutiu sobre projetos de escrita e muito se discutiu sobre o grupo. Conseguindo os membros administrar isso para que esses debates não se prolonguem de forma a atrapalhar o propósito real do grupo, os resultados são em geral muito bons.

Houveram problemas com a dispersão, que, pensamos, tinha tendência a sempre aumentar com o tamanho do grupo, mas ela foi reduzida sem precisar de intervenção alguma. Espaço já se tornou alvo de críticas um sem-número de vezes, algumas reuniões sendo limitadas pelo barulho de eventos que ocorriam ao redor, outras pelo espaço quando o número de membros reunidos ultrapassava demais uma dezena. Surgiram no grupo estilos de escrita exóticos, diversos, cujos próprios portadores ao frequentarem as primeiras reuniões pensaram que o grupo em nada podia ajudá-los: muitos desses hoje estão entre os quais mais se empolgam com a ideia do grupo. Convocar novos membros ainda tem sido um assunto delicado: a abordagem atual é fazer isso lentamente e ir se adaptando.

Um grupo no Facebook surgiu, veio a reunião online para agregar escritores de outros estados, e agora o blog. Ainda há muitos problemas a serem resolvidos, pontos que nunca foram propriamente tratados, e até mesmo nas reuniões presenciais há muito espaço para crescer e melhorar. Dificilmente a Taverna se compara aos “Inklings” ou “Schroendinger’s Petshop”, mas com os caminhos tomados, espera-se que seja possível chegar além disso um dia. E é com o relato dessa experiência, ainda jovem e incompleta, que esperamos ter ajudado todos aqueles que desejam encarar o desafio de fundar seus próprios grupos e reunir escritores. Em parte, o blog nasceu para isso, e se com experiência pudermos ajudar, não hesitem em falar.

Acima de tudo, se puderem, compartilhem suas experiências e conhecimentos conosco e com todos. Escrevam, divulguem e ensinem! Pois afinal, a Taverna surgiu do anseio por aprendizado e de uma vontade louca e incontrolável de escrever.

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